A região sul do Brasil é bastante conhecida pela produção de uva e vinhos. Conforme dados do IBGE, aqui são produzidos cerca de 56% de toda a uva brasileira e o foco é a indústria. Diferentemente dos 31% de uvas produzidas na região nordeste, cujo foco é o consumo in natura. Mas tanto no Sul quanto no Nordeste, o mercado da viticultura tem se expandido e cada vez mais está associado a outro ramo do qual o Brasil entende bem: o turismo!
A região sul já tem seu potencial vitivinícola/turístico bem consolidado, enquanto a região nordeste ainda está descobrindo-o. Os principais municípios gaúchos produtores de uva recebem turistas o ano todo em busca do consumo e comércio de vinhos regionais e da visita aos vinhedos que ocupam boa parte das paisagens da região.
O turismo contribui, então, para que o setor vitivinícola se torne ainda mais rentável. Sem contar a movimentação turística, os lucros líquidos podem chegar perto dos 25 mil reais por hectare, segundo dados da Embrapa. E no Rio Grande do Sul são 44 mil hectares com vinhedos, que devem render 1,7 milhão toneladas de uva na próxima safra, conforme levantamento feito pelo IBGE. É uva que não acaba mais!
Um vinhedo produtivo tem seus principais pilares de sustentação: variedades adaptadas, uma boa adubação e o controle de pragas e doenças. Na produção de uvas, os maiores danos são causados por fungos, que têm seu desenvolvimento favorecido pela umidade elevada e altas temperaturas. Duas condições estas muito comuns no sul do Brasil durante o período de cultivo tradicional, que se estende até dezembro. E essa se torna uma preocupação ainda maior quando lembramos que neste ano o Brasil está sob influência do fenômeno climático La Niña, que tem trazido uma maior quantidade de chuvas ao país.
Confira algumas das principais doenças causadas por fungos que ocorrem na videira:
1. Míldio (Plasmopara viticola)
Considerada a principal doença fúngica que ocorre em videira, é capaz de infectar todas as partes da planta. As condições ideais para o seu desenvolvimento são temperaturas entre 18º C e 25º C e presença de água livre na superfície dos tecidos vegetais por pelo menos duas horas. Quando a umidade relativa do ar passar de 95%, ocorre a formação de esporos, que se encarregarão de disseminar a doença.
Nas folhas da videira surgem manchas amareladas com aspecto de mancha de óleo. Na face inferior das folhas, assim como nos ramos e bagas, surge um mofo branco. Em estágio avançado, as regiões afetadas necrosam e as folhas podem cair. Nas bagas, o fungo penetra através do pedicelo e se desenvolve em seu interior, tornando-a escura e dura (grão preto).
A melhor forma de controle é a prevenção, que envolve uma série de cuidados com o objetivo de se obter uma adequada insolação e ventilação da copa das plantas. Evitar o fundo de vales para instalação do vinhedo e a realização de podas verdes são alguns desses cuidados. O uso de defensivos químicos é uma alternativa, porém tornam-se inúteis durante a floração e no início da maturação, quando os danos já são irreversíveis.
2. Oídio (Uncinula necator) 
Este fungo ataca principalmente variedades europeias (Vitis vinifera). Se desenvolve melhor em tecidos jovens e persiste em bagas que ainda não atingiram teor de açúcar próximo de 15%. Para o desenvolvimento deste fungo, a umidade não é o fator principal, mas sim a temperatura, que é ótima em 25º C.
Os sintomas desta doença aparecem em todos os tecidos verdes. Na face superior das folhas surgem manchas cloróticas espalhadas e uma camada de pó branco acinzentado que é composto por micélios e esporos. Em estágios avançados as folhas nem chegam a se desenvolver. As bagas atacadas podem se romper e se tornar porta de entrada para outros microrganismos.
O controle pode ser feito de forma preventiva com a eliminação de restos de poda e, na medida do possível, com a escolha de variedades resistentes. Se a opção escolhida for o controle químico, se mostra eficiente a utilização de fungicidas sistêmicos aplicados durante a brotação e logo que surgirem os primeiros sintomas. Mas se a preferência for o controle biológico, bons resultados podem ser obtidos com aplicações semanais do biofungicida Biomix, uma mistura de estirpes de Trichoderma spp.
3. Mofo-cinzento (Botrytis cinerea) 
Doença também conhecida como podridão-cinzenta. Ocorre em todos os países com produção de uvas. Alta umidade relativa do ar e temperaturas entre 15º C e 28º C levam a infecções mais severas. Cultivares de cacho compacto, que retêm água por mais tempo e dificultam o tratamento com fungicidas tendem a ter mais problemas com Botrytis, assim como cultivares de uva branca. As cultivares de uva tinta possuem compostos que podem inibir a ação deste fungo.
Os cachos são o principal foco de infecção e podem cair prematuramente se o ataque ocorrer a partir do pedúnculo. Se inicia com uma única baga, que se torna um reservatório de esporos de cor escura, posteriormente se rompendo e contaminando as demais bagas ao redor. A infecção também pode ocorrer durante a floração e se manifestar apenas no início da maturação dos frutos, pois o fungo pode permanecer em estado latente. As folhas apresentam sinais, que são lesões marrom-escuras.
As medidas de controle são preventivas, semelhantes àquelas tomadas em relação as outras doenças fúngicas: cuidados que aumentem a insolação e ventilação na copa das plantas, como a realização de podas verdes e manutenção de um adequado espaçamento entre plantas e cachos. E a aplicação de fungicidas registrados nas épocas de maior suscetibilidade.
4. Antracnose (Elsinoe ampelina) 
O fungo causador desta doença é ativo em uma faixa de temperatura que vai de 2º C a 32º C. Entretanto, sua temperatura ideal de infecção está entre 24º C e 26º C. A antracnose também pode ser vista em todas os tecidos verdes da planta. Surgem manchas cinzas com borda de cor preta tanto em ramos quanto nas bagas. Em estágios mais avançados, as manchas que surgem nas folhas ficam com o centro perfurado.
Medidas preventivas podem contribuir para o controle da antracnose. Evitar instalação do parreiral em áreas de baixada, instalar quebra-ventos e utilizar mudas sadias. Mas se a área tiver histórico de ocorrência da doença, aplicações de calda sulfocálcica no início da brotação são necessárias.
5. Fusariose (Fusarium oxysporum f.sp. herbemontis)
É uma doença vascular de difícil controle, que pode levar a morte súbita da planta infectada. Consequentemente, a produção é drasticamente reduzida. Ferimentos nas raízes com uso de implementos e solos mal drenados e com grande quantidade de matéria orgânica são fatores que favorecem a ocorrência deste fungo na videira. Ele age interrompendo o transporte de seiva. Ocorre escurecimento interno da madeira e folhas e cachos murcham.
O controle químico não é eficaz! É importante evitar todas as condições que favorecem o desenvolvimento do fungo, além da utilização de mudas sadias e porta-enxertos resistentes, como é o caso do Paulsen 1103. Em áreas já infectadas, deve-se realizar o arranquio e queima de plantas com sintomas e a aplicação de cal virgem no solo. Máquinas e implementos que transitaram nessas áreas devem ser desinfetados após o uso. Em caso de vinhedos inteiramente erradicados, a área deve permanecer em repouso por um ano ou receber alguma cultura anual nesse período.
6. Declínio da videira (Eutypa sp.)
Fungos do gênero Eutypa são alguns dos principais causadores de doenças no tronco de videiras no Estado do Rio Grande do Sul. Sua infecção é favorecida por ferimentos causados durante as atividades de manejo do vinhedo e também por estresse hídrico e desbalanço nutricional. A temperatura ótima para este gênero é entre 20º C e 25º C.
A planta atacada apresenta uma série de deformações em sua estrutura: encurtamento de entrenós, deformação e descoloração de ramos, folhas menores e cloróticas que podem cair, menor número de bagas nos cachos, redução drástica do vigor da planta e sua morte. O interior de ramos e tronco afetados apresenta mancha escura geralmente em formato de cunha.
Como medidas de controle há o uso de mudas e porta-enxertos sadios e realização de podas verdes e eliminação das partes retiradas. No período de repouso, cascas soltas e áreas necrosadas devem ser retiradas para exposição ao sol e fungicidas aplicados como proteção.
7. Podridão da uva madura (Glomerella cingulata)
O fungo causador desta doença ataca frutos já maduros. Entretanto, ele pode infectar frutos verdes e manter-se em estado latente até a maturação. Temperaturas entre 25º C e 30º C, elevada umidade e excesso de nitrogênio nos tecidos favorecem sua ação. O primeiro sintoma é o aparecimento de manchas marrom-avermelhadas sobre as bagas que posteriormente tomam conta de toda sua superfície, tornando-as escuras. Sob elevada umidade, ocorre exsudação de uma massa rósea contendo estruturas de reprodução do fungo.
Repetidas pulverizações com defensivo químico adequado devem ser realizadas a partir do final da floração. Mas outras medidas podem contribuir para o controle desta doença: remoção e eliminação de frutos mumificados, eliminação de restos de poda e adubação equilibrada.
Defensivos e os limites máximos de resíduos
Como vimos, um modo muito utilizado para controle das doenças causadas por fungos é a aplicação de defensivos químicos. Entretanto, seu uso deve ser criterioso a fim de evitar a presença de resíduos nas bagas, o que pode comprometer sua qualidade, a qualidade dos seus subprodutos (como o vinho, por exemplo) e a saúde do consumidor. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio de pesquisas, estipulou a nível nacional limites máximos de resíduos (LMR) para diversas culturas de interesse econômico. No caso da uva, há limites definidos para mais de 60 produtos registrados para essa cultura. Quando o assunto é importação e exportação, o LMR é definido pela Codex Alimentarius, um programa da ONU voltado para a agricultura e alimentação.
Tecnologias de sensoriamento e automação
A utilização de tecnologias para sensoriamento das condições climáticas e automação na produção de uva torna mais eficiente a utilização de recursos – que pode resultar, por exemplo, na redução do uso excessivo de insumos e defensivos. Uma consequência direta a curto prazo na economia de recursos investidos na safra pelo produtor, já que os insumos são um dos principais gastos no cultivo e vem sofrendo uma alta de preços, a longo prazo o aumento da produtividade e diminuição de estresse gerado nas plantas.
O emprego de equipamentos tais como sensores (de umidade e de temperatura do ar e solo, molhamento foliar e outras variáveis) quando instalados nos parreirais, fornecem uma análise do microclima dos cultivos em tempo real, assim podendo se ter parâmetros para correlacionar com as condições do ambiente que são uns dos principais fatores no desenvolvimento de doenças fúngicas, conforme descritas neste artigo, gerando alertas para a tomada de decisão das aplicações dos defensivos de forma antecipada ou conforme for necessário, sendo mais inteligente e efetivo o controle.
Assim, o resultado é a diminuição das quantidades de aplicações por ciclo de safra, uso de dosagens em menores concentrações, e também de defensivos químicos ou biológicos menos agressivos, comparando com estratégias de aplicações por calendário, presença de doenças ou análise empírica do clima (baseado na experiência ou observação).